O preço do vinho não diz tudo

Caros amigos do vinho,

Desculpem-me por ter ficado ausente nas últimas semanas. Um problema de saúde, nada grave, me impediu de pensar em vinho e preferi me abster de escrever.

Volto agora, depois de já ter podido voltar a algumas taças, para falar de um “vício” que acompanha tanto os apreciadores não-especialistas, como eu, como também os especialistas. Trata-se de entender o preço na prateleira como indicador inquestionável da qualidade do vinho. E aproveito para me inspirar no interessante artigo publicado aqui no V de Vinho, que reproduziu texto de Matt Kramer, do Wine Spectator.

Nas minhas idas e vindas pelas coisas do vinhos nos últimos anos constatei que o preço que se cobra pelo rótulo tem às vezes mais a ver com a negociação que um comerciante faz com o distribuidor do que da qualidade e custos de produção propriamente ditos. Também podem pesar o câmbio, no momento da importação, que joga o preço pra baixo ou pra cima.

Lembro que há algum tempo fui ao supermercado disposto a comprar um Carménère chileno – que é um tinto suave, para acompanhar massas não muito picantes, por exemplo – não disposto a gastar mais de 40 reais pela garrafa. E fiquei alguns instantes diante da prateleira com dois candidatos: um que estava em promoção, por 32 reais, e outro por 42. Li as descrições do rótulo, logicamente muito elogiosas, e embora meu bolso pedisse o mais barato sucumbi à “informação” do preço mais alto. “Se é 10 reais mais caro, deve ser porque foi 10 reais mais bem feito”, pensei ao romper em 2 reais o meu limite orçamentário.

Foi de fato um bom vinho e acompanhou bem o prato que fizemos em casa. Mas tempos depois, em restaurante, me deparo com os mesmos dois vinhos com posições de preços invertidas. Eis a questão: quem estava errado, o supermercado ou o restaurante? No restaurante, como os preços estivessem altos demais para os gastos daquele momento, preferi outras opções. Mas em seguida voltei ao supermercado para rechecar os preços. No que eu havia comprado na primeira vez já não estavam os dois e um deles, o mais barato, já sem promoção, custava 37 reais. Fui em outro supermercado e encontrei os dois por 35 reais ambos. Comprei as duas garrafas e fiz uma seção de degustação com um casal amigo dias depois.

Todos ali eram apreciadores não especialistas como eu. E as opiniões variaram. Eu preferi, sem muita convicção, aquele escolhido pelos 10 reais a mais. Meu amigo e a esposa gostaram mais do que eu havia rejeitado na primeira vez. Minha mulher gostou dos dois, embora tenha percebido diferença entre eles.

Moral da história, como disse o Matt Kramer: há boas pechinchas entre os vinhos de todas as procedências e o preço alto às vezes não indica qualidade. Ou como repete sempre o principal crítico de vinhos do mundo, o americano Robert Parker: nenhum vinho pode valer intrinsecamente mais do que 100 dólares – porque nem aquele que tem os custos mais altos supera esse teto de valor, margem de lucro incluída (claro que o valor não tangível de um rótulo dos sonhos pode ir muito além disso, mas esse é o preço do desejo do consumidor, não do que aquela bebida de fato vale).

Ponderação feita, volto ao meu exemplo inicial para concluir que, na próxima vez, na dúvida, vou levar para casa o mais barato e não o mais caro.

Um brinde,

Patrício

2 Respostas to “O preço do vinho não diz tudo”

  1. Lucas Leite Says:

    Pois é, o vinho considerado o melhor do mundo, o Toro Loco Tempranillo vai custar em torno de R$ 25,00 aqui no brasil… Gostei do seu blog e do modo como escreve… Parabéns !

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